Durante anos, o Ethereum foi visto como a joia da coroa do ecossistema cripto. Uma plataforma robusta, promissora, e, acima de tudo, cheia de potencial para reinventar a forma como lidamos com contratos, identidade digital, finanças e propriedade intelectual. Mas hoje, em 2025, muitos se perguntam: estamos assistindo ao início do fim do Ethereum?
Essa pergunta pode soar dramática, mas não é tirada do nada. O preço do ETH tem enfrentado quedas significativas, o ecossistema está fragmentado, e os problemas estruturais que antes eram varridos para debaixo do tapete agora estão escancarados. Vamos entender o que está acontecendo.
O Início: Uma proposta ambiciosa
Lançado em 2015 por Vitalik Buterin e outros desenvolvedores visionários, o Ethereum surgiu com uma ideia simples e poderosa: permitir que qualquer pessoa criasse contratos inteligentes descentralizados em uma blockchain. Isso abriu portas para DAOs, NFTs, DeFi, jogos blockchain, identidade digital e muito mais.
Durante o ciclo de alta de 2020 a 2021, o Ethereum foi o palco de boa parte da inovação do mercado cripto. O preço chegou perto de US$ 5.000, e o ETH era considerado o combustível de uma nova internet descentralizada.
Mas toda tecnologia, por mais promissora que seja, precisa entregar na prática. E é aí que começam os problemas.
Escalabilidade: O calcanhar de aquiles
O maior problema técnico do Ethereum sempre foi a escalabilidade. Durante anos, a rede ficou congestionada, com taxas altíssimas (as famosas gas fees) tornando inviável qualquer transação menor. Um simples envio de NFT ou troca em DEX podia custar US$ 100 ou mais. Isso afastou usuários comuns e centralizou o uso em grandes investidores ou instituições.
A resposta prometida foi o Ethereum 2.0 — uma migração da prova de trabalho (PoW) para prova de participação (PoS). De fato, o Merge aconteceu em setembro de 2022, marcando a transição para o PoS. Só que, na prática, isso não resolveu a escalabilidade como prometido.
Os rollups e soluções Layer 2 (como Arbitrum, Optimism e zkSync) foram vendidos como salvação, mas criaram outro problema: fragmentação.
Fragmentação do ecossistema
Hoje, o Ethereum não é mais “uma rede”, mas sim dezenas de sub-redes que operam em camadas diferentes. Isso exige pontes, faz os usuários ficarem confusos sobre onde estão seus ativos, e, pior: aumenta a superfície de ataque.
Cada ponte entre redes se torna um ponto de vulnerabilidade. Já vimos bilhões de dólares sendo hackeados por falhas em bridges. Isso gera insegurança, afasta o usuário comum e mina a confiança no sistema como um todo.
Além disso, a fragmentação prejudica a experiência de usuário — um fator crítico para a adoção em massa. Em vez de uma web3 fluida, temos um emaranhado técnico que exige conhecimento profundo e tempo para lidar com as complexidades do ecossistema Ethereum.
O Concorrente que chegou chegando
Enquanto o Ethereum se enrolava com soluções técnicas e debates eternos da comunidade, concorrentes como Solana, Aptos e até redes mais centralizadas como a BNB Chain, avançaram com propostas mais simples, baratas e rápidas.
Solana, por exemplo, sofreu no início com quedas frequentes, mas vem se estabilizando e ganhando adoção em setores como jogos, finanças e pagamentos. A taxa quase zero, a alta velocidade e a facilidade de uso estão fazendo diferença. E a verdade é dura: o usuário médio prefere uma solução que “funciona” a uma que é “perfeitamente descentralizada, mas difícil”.
Governança e centralização disfarçada
Outro ponto crítico que mina a credibilidade do Ethereum é a sua governança. Apesar do discurso descentralizado, decisões importantes continuam sendo tomadas por um pequeno grupo de desenvolvedores centrais — com Vitalik ainda tendo um papel quase messiânico.
A migração para PoS também trouxe a concentração de staking. Grandes validadores — como exchanges e fundos — dominam o staking de ETH, o que significa que a “nova Ethereum” pode ser mais vulnerável a capturas institucionais do que jamais foi com a mineração.
A realidade atual: Preço em queda e narrativa abalada
No momento em que escrevo este texto, o ETH luta para se manter acima dos US$ 1.800. A confiança institucional diminuiu, o interesse de varejo é quase nulo, e até mesmo os desenvolvedores estão migrando para outras plataformas mais ágeis e menos complexas.
As promessas não cumpridas, a complexidade técnica, os riscos de segurança e a competição crescente estão corroendo a narrativa que sustentava o Ethereum como o “computador mundial”.
Mas… É realmente o fim?
É aqui que a conversa fica interessante. O fim do Ethereum pode não ser literal, mas simbólico. Estamos vendo o fim de uma era onde o Ethereum era o centro absoluto do universo cripto. A hegemonia acabou. Ele pode continuar existindo, mas agora como mais uma opção em um ecossistema diversificado, onde o melhor produto vence — e não apenas o mais idealista.
O Ethereum precisa se reinventar, simplificar, ouvir os usuários e, principalmente, entregar o que prometeu. Caso contrário, será apenas mais um protocolo brilhante enterrado sob o peso de sua própria ambição.
Conclusão: Hora de encarar a realidade
Para quem acompanhou o Ethereum desde o início, como eu, é doloroso escrever isso. Mas ignorar os problemas não vai ajudar. Precisamos falar abertamente sobre o declínio do Ethereum, suas causas e o que podemos aprender com isso.
A tecnologia blockchain ainda tem muito a oferecer. Mas o futuro talvez não seja construído em cima do Ethereum. E tudo bem.
Talvez, o que estamos presenciando não seja o fim de uma moeda, mas o fim de uma ilusão.