O banco que colocou o FGC em risco: como o Banco Master escancarou uma falha no sistema financeiro

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é um dos principais pilares de segurança do investidor de renda fixa no Brasil. Mas e se essa rede de proteção estiver sendo usada como alavanca para estratégias arriscadas, que colocam em xeque a estabilidade do sistema financeiro? Foi exatamente isso que o Banco Master fez — e agora o caso virou pauta no Banco Central e entre os grandes bancos.

Neste artigo, você vai entender como uma instituição de médio porte conseguiu comprometer quase metade do FGC, e por que esse episódio acende um alerta importante para o mercado.

A estratégia do Banco Master: altos juros e alto risco

O Banco Master começou a atrair olhares ao oferecer CDBs com rendimento até 40% superior aos grandes bancos. Para o investidor pessoa física, parecia um bom negócio: mais retorno e a segurança do FGC garantindo até R$ 250 mil por CPF.

Mas por trás desses “super CDBs”, estava uma engenharia financeira agressiva. O banco estava se endividando caro para captar dinheiro no mercado. Com esses recursos, comprava ativos de alto risco e baixa liquidez — como precatórios, direitos creditórios e participações em empresas problemáticas, muitas delas fora da bolsa.

O problema? Esses ativos são difíceis de vender rapidamente. Em caso de necessidade de caixa, a liquidação seria complicada e provavelmente com prejuízo.

O risco escondido: o uso do FGC como escudo

A confiança dos investidores na proteção do FGC foi um fator decisivo para o sucesso da captação do Banco Master. Mas o que parecia uma segurança individual acabou virando um risco sistêmico.

Estima-se que os CDBs do Banco Master chegaram a comprometer cerca de R$ 50 bilhões do FGC — quase metade do valor total disponível no fundo, que hoje soma aproximadamente R$ 107 bilhões.

Ou seja, se o banco não conseguisse honrar suas dívidas, o FGC poderia ser obrigado a cobrir um rombo gigantesco. E pior: isso poderia abrir um precedente perigoso para outros bancos fazerem o mesmo.

Banco Central, BRB e o alerta do sistema

O cenário ganhou proporções maiores quando o BRB (Banco de Brasília), uma instituição pública, anunciou a intenção de adquirir parte dos ativos do Banco Master. O objetivo era assumir apenas os “ativos bons”, deixando os demais riscos para trás — uma operação que chamou atenção do Banco Central.

O presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, convocou os grandes bancos para uma reunião de emergência. O tema? Discutir o risco sistêmico e o uso do FGC como incentivo para estratégias arriscadas.

A preocupação é legítima: se outros bancos menores seguirem o mesmo caminho, o fundo pode se tornar insustentável.

A bomba-relógio continua

Mesmo com toda a pressão e investigações em andamento, o Banco Master continua ofertando novos CDBs no mercado. O dinheiro captado está sendo usado, em parte, para pagar dívidas antigas — o clássico efeito bola de neve.

Enquanto isso, o banco ainda não resolveu os problemas estruturais que deram origem à crise. E o FGC continua vulnerável.

Conclusão: precisamos repensar o FGC?

O caso do Banco Master não é apenas um problema pontual. Ele revela uma falha estrutural: o FGC, que deveria ser um seguro contra imprevistos, virou um argumento de vendas para investimentos de risco.

Esse episódio deve servir como ponto de virada para uma discussão mais ampla sobre as regras de funcionamento do fundo, os limites para captação de bancos menores e a responsabilidade dos reguladores.

O investidor precisa entender: quando a promessa de retorno é muito alta, o risco é maior do que parece — mesmo com “proteção”.

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