Por anos, o Tesouro Direto foi tratado como o porto seguro do investidor brasileiro. Um título público, emitido pelo governo, com rentabilidade previsível e baixo risco. Mas e se eu te dissesse que esse “porto seguro” está, aos poucos, afundando?
A realidade é mais dura do que o discurso oficial. O Tesouro Direto não é mais sinônimo de preservação de valor. Pelo contrário: ele pode estar corroendo seu patrimônio de forma lenta, silenciosa e inevitável.
A falsa sensação de segurança
Quando falamos de risco, muita gente pensa só em perder dinheiro do dia pra noite — como pode acontecer com ações ou criptomoedas. Mas o maior risco do Tesouro Direto não é a volatilidade. É a ilusão de ganho.
Mesmo rendendo 10%, 11%, 12% ao ano, a maioria dos títulos públicos está apenas acompanhando a inflação. E quando você desconta o imposto de renda e a corrosão do real, o que sobra é um retorno líquido muitas vezes negativo em poder de compra real.
A inflação é o imposto invisível
O Tesouro IPCA+, por exemplo, promete “proteger” contra a inflação. Mas vamos aos dados:
- O IPCA de 2024 fechou em 4,6%
- Um Tesouro IPCA+ que paga IPCA + 5,5% parece ótimo: 10,1% bruto
- Mas:
— Imposto de renda come 15% no mínimo
— A inflação oficial subestima o custo de vida real
— E o rendimento líquido muitas vezes mal cobre o custo da cesta básica
Na prática, seu dinheiro está sendo diluído. Você está emprestando ao governo e recebendo de volta uma moeda que vale menos.
A manipulação da taxa Selic
A política monetária do Brasil é cíclica. Quando a inflação estoura, o Banco Central sobe os juros. Quando o governo precisa estimular a economia, corta. E nesse vai-e-volta, quem perde é quem trava dinheiro no Tesouro.
Exemplo:
- Em 2021, muitos compraram Tesouro IPCA+ com taxas baixas (IPCA + 3%)
- Em 2023 e 2024, os títulos novos passaram a pagar IPCA + 6%
- Resultado: quem comprou antes, viu seus títulos desvalorizarem no mercado secundário
Ou seja: você pode perder dinheiro até antes do vencimento, se precisar vender. Isso é risco, sim.
Se é tão ruim assim, por que todo mundo recomenda?
Porque é fácil, acessível, e — principalmente — confortável para o sistema.
- Corretoras ganham comissões
- Bancos aliviam sua dependência de captação
- O governo financia sua dívida com facilidade
O pequeno investidor é quem sustenta essa roda.
Então o que fazer?
Não se trata de abandonar totalmente o Tesouro Direto. Mas de entender que ele não é “seguro” — é apenas previsível. E previsibilidade sem poder de compra não protege patrimônio.
Alternativas:
- Fundos cambiais ou exposição a ativos atrelados ao dólar
- Bitcoin como reserva de valor de longo prazo
- Renda variável com foco em dividendos reais
- Ouro físico ou tokenizado
- Diversificação internacional
Conclusão
O maior risco hoje não é a volatilidade. É a ilusão de segurança.
O Tesouro Direto ainda pode ter seu papel na carteira, mas só se você entender que ele não te protege da inflação verdadeira, da manipulação política nem da deterioração do real.
A pergunta que fica é: você vai continuar financiando um sistema que desvaloriza o seu dinheiro?